sexta-feira, 19 de dezembro de 2008

ESCUTO


Escuto atrás da cortina,
A tua voz de menina,
E o bruah, distante,
Que me espera.
Doces instantes de paz,
Que o coração acelera
E a mão agarra sem sentir.
É de veludo,
O casulo em que me fecho.
De seda,
A chave que balança no ferrolho.
Chama o meu nome,
E será teu o sonho
Que me envolve
E me devolve
A madrugada ausente.
Sente o meu perfume
E o lume que se acende
No frio do bastidor.
Agora um minuto
É todo o tempo que tens
O tempo do Mundo.
Sou leopardo perdido
Na planície do teu colo,
Onde me enrolo
E deixo adormecer.
A selva balança
No teu corpo
E aí me rendo
Á escuridão.
Voo com o falcão,
E arranco pedaços ao céu.
É meu este sangue.
É tua a seiva,
A raiva que desperta o ardor
E a palavra cruel, fiel, do amor.
Salta a gazela e o veado
Entrelaçados no capim.
É por mim o barulho,
Por ti o lasso sossego
Do mergulho.

quinta-feira, 4 de dezembro de 2008

IMAGINEM

Imaginem que todos os gestores públicos das setenta e sete empresas do Estado decidiam voluntariamente baixar os seus vencimentos e prémios em dez por cento.
Imaginem que decidiam fazer isso independentemente dos resultados. Se os resultados fossem bons as reduções contribuíam para a produtividade. Se fossem maus ajudavam em muito na recuperação.
Imaginem que os gestores públicos optavam por carros dez por cento mais baratos e que reduziam as suas dotações de combustível em dez por cento.
Imaginem que as suas despesas de representação diminuíam dez por cento também. Que retiravam dez por cento ao que debitam regularmente nos cartões de crédito das empresas.
Imaginem ainda que os carros pagos pelo Estado para funções do Estado tinham ESTADO escrito na porta.
Imaginem que só eram usados em funções do Estado.
Imaginem que dispensavam dez por cento dos assessores e consultores e passavam a utilizar a prata da casa para o serviço público.
Imaginem que gastavam dez por cento menos em pacotes de rescisão para quem trabalha e não se quer reformar.
Imaginem que os gestores públicos do passado, que são os pensionistas milionários do presente, se inspiravam nisto e aceitavam uma redução de dez por cento nas suas pensões. Em todas as suas pensões. Eles acumulam várias. Não era nada de muito dramático. Ainda ficavam, todos, muito acima dos mil contos por mês.
Imaginem que o faziam, por ética ou por vergonha.
Imaginem que o faziam por consciência.
Imaginem o efeito que isto teria no défice das contas públicas.
Imaginem os postos de trabalho que se mantinham e os que se criavam.
Imaginem os lugares a aumentar nas faculdades, nas escolas, nas creches e nos lares.
Imaginem este dinheiro a ser usado em tribunais para reduzir dez por cento o tempo de espera por uma sentença. Ou no posto de saúde para esperarmos menos dez por cento do tempo por uma consulta ou por uma operação às cataratas.
Imaginem remédios dez por cento mais baratos.
Imaginem dentistas incluídos no serviço nacional de saúde.
Imaginem a segurança que os municípios podiam comprar com esses dinheiros.
Imaginem uma Polícia dez por cento mais bem paga, dez por cento mais bem equipada e mais motivada.
Imaginem as pensões que se podiam actualizar.
Imaginem todo esse dinheiro bem gerido.
Imaginem IRC, IRS e IVA a descerem dez por cento também e a economia a soltar-se à velocidade de mais dez por cento em fábricas, lojas, ateliers, teatros, cinemas, estúdios, cafés, restaurantes e jardins.
Imaginem que o inédito acto de gestão de Fernando Pinto, da TAP, de baixar dez por cento as remunerações do seu Conselho de Administração nesta altura de crise na TAP, no país e no Mundo é seguido pelas outras setenta e sete empresas públicas em Portugal.
Imaginem que a histórica decisão de Fernando Pinto de reduzir em dez por cento os prémios de gestão, independentemente dos resultados serem bons ou maus, é seguida pelas outras empresas públicas.
Imaginem que é seguida por aquelas que distribuem prémios quando dão prejuízo.
Imaginem que país podíamos ser se o fizéssemos.
Imaginem que país seremos se não o fizermos.
por MÁRIO CRESPO.

quinta-feira, 2 de outubro de 2008

PERGUNTAS


Como é que se escreve zero em algarismos Romanos ???

Porque é que os Flintstones comemoravam o Natal se eles viviam numa época antes de Cristo ???

Porque é que os filmes de batalha espaciais têm explosões tão barulhentas se o som não se propaga no vácuo ???

Se depois do banho estamos limpos porque é que lavamos a toalha ???

Se Deus está em todo lugar, porque é que as pessoas olham paracima para falar com Ele ???

Se os homens são todos iguais, porque é que as mulheres escolhem tanto ???

Porque é que a palavra 'Grande' é menor do que a palavra 'Pequeno' ???

Porque é que 'Separado' se escreve tudo junto e 'Tudo junto' se escreve separado ???

Se o vinho é liquido, como pode existir vinho seco ???

Porque é que as luas dos outros planetas têm nome mas a nossa se chama só lua ???

Por que as pessoas apertam o comando da televisão com mais força quando a pilha está fraca ???

O instituto que emite os certificados de qualidade ISO 9002 tem qualidade certificada por quem ???

Quando inventaram o relógio como sabiam que horas eram para poder acertá-lo ???

Se a ciência consegue desvendar até os mistérios do DNA, porque é que ninguém descobriu ainda a fórmula da Coca-Cola ???

Como foi que a placa 'É Proibido Pisar a Relva' foi lá colocada ???

Porque é que quando alguém nos pede que ajudemos a procurar um objecto perdido temos a mania de perguntar: “Onde é que perdeste” ???

Porque é que há pessoas que acordam os outros para perguntar se estavam a dormir ???

Porque é que os ginecologistas saem do consultório para as mulheres se despirem ???

Se uma pessoa comprar um terreno, ela possui o terreno todo até ao centro da terra ???

Porque é que se chama 'Alcoólicos Anónimos' quando a primeira coisa que fazemos é dizer: “O meu nome é Zé e sou alcoólico “ ???

Porque é que há luz no frigorífico e não há no congelador ???

Porque é que a água mineral que corre pelas montanhas durante séculos tem uma 'data para consumo' ???

Porque é que as torradeiras têm sempre uma opção para uma temperatura tão alta que queima as torradas todas ???

Porque é que os pilotos kamikaze usam capacete ???

Quem foi a primeira pessoa que olhou para uma vaca e disse: “Acho que vou espremer estas coisas compridas e beber o que quer que saia de lá “ ???

Porque é que quando o Incrível Hulk se transforma, rebenta toda a roupa menos as cuecas ???

Porque é que quando uma pessoa pergunta as horas aponta para o pulso e quando pergunta onde é a casa de banho não aponta para as partes ???

Porque é que o Pateta anda em pé e o Pluto anda de quatro ??? São ambos cães!!!

As pessoas cegas conseguem ver os seus sonhos ???

Se o óleo de milho é feito de milho, e o óleo vegetal é feito de vegetais, do que é feito o óleo de bebé ???

Porque é que quando uma pessoa te diz que há um bilião de estrelas no céu tu acreditas e quando te diz que tens as cuecas molhadas tu precisas de apalpar para ter a certeza ???

Será que os analfabetos sentem o mesmo efeito ao comer sopa de letras ???

Porque é que as agulhas para injecções letais dos condenados à morte são esterilizadas ???

terça-feira, 30 de setembro de 2008

JUSTIÇA??? SEGURANÇA???









O Sr. Pinto da Costa vai ser indemnizado em 20 mil euros por ter estado três horas preso indevidamente.
Primeiro, constato que ele «leva» muito mais caro que o deputado Paulo Pedroso, que esteve preso durante uns meses.
Segundo, fico a pensar que, se fosse juiz, pensaria muito melhor antes de mandar prender, mesmo preventivamente, uma pessoa destas.
Terceiro, fico a pensar se será bom os juízes terem medo de prender, mesmo preventivamente, pessoas destas.
Quarto, fico a pensar que se os juízes se «enganaram» a prender pessoas destas, quanto não se terão enganado a prender pessoas das outras.
Quinto, fico a pensar quanto estaremos a dever a todas as pessoas das outras, que foram presas indevidamente mas não têm dinheiro para pagar a bons advogados para conseguirem indemnizações.
E, sexto, fico a pensar que me daria muito jeito ser preso umas cinco horas antes do Natal, desde que as indemnizações não contem para os impostos e que arranje um advogado em conta.






Soube também entretanto que, no dia em que um atirador especial da PSP matou o assaltante do banco que ameaçava um refém, as comunicações entre os vários agentes não funcionaram convenientemente. O outro atirador especial que deveria ter disparado ao mesmo tempo não ouviu a ordem para disparar e, portanto, não o fez.
Isto seria somente uma pequena «falha de comunicação» se a outra pessoa que estava a ser ameaçada pelo outro refém não tivesse ficado em perigo de vida quando o segundo assaltante disparou por reflexo, ao ver o seu «colega» assaltante ser abatido.
O reflexo, felizmente, foi provavelmente porque era amador - disparar para fora e não sobre a pessoa que ele ameaçava. Ou seja, provavelmente se fossem profissionais o desfecho teria sido trágico «somente» porque os nossos polícias usam aparelhos de comunicação que não comunicam entre si.
Ainda bem que assim foi só ridículo.
Mas não me venham dizer que estamos preparados para lidar a sério com a criminalidade que está a aumentar. É que os amadores que andam a assaltar bombas, caixas de multibanco e carros de alta cilindrada estão a ficar profissionalizados com estas «novas oportunidades».
Claro que há uns quantos criminosos que são apanhados em flagrante e não são presos, mas isso já é «normal», embora não se perceba.
O que não percebo é porque saem em liberdade quando as suas armas são ilegais ou eles próprios estão em Portugal ilegalmente.
Será que, quando os ilegais forem presos, ainda lhes vamos estar a pagar as refeições na prisão, em vez de os recambiar para as prisões dos países de onde não deviam ter saído?

segunda-feira, 29 de setembro de 2008

O SUICIDIO DOS POLICIAS


Um agente da PSP e três militares da GNR suicidaram-se no espaço de cinco dias em diferentes pontos do País. O mais novo tinha 26 anos, o mais velho 33.

Alguma coisa não está bem na vida profissional dos milhares de profissionais destas forças de segurança para semelhantes actos sucederem a este ritmo e nesta proporção, já que é difícil acreditar nas justificações de "problemas passionais". Também se desconhecem situações de dívidas e de crises familiares que chegassem ao ponto de levar homens feitos e profissionais experientes a atingirem o desespero de tão trágicos desfechos.

Nas forças de segurança, o apoio médico é insuficiente e o comando e organização terão de ser deficientes para se chegar a esta situação. Homens armados e em situações extremas não podem viver sem margem de confiança por quem deve ser protegido ou tem de ser combatido dentro da Lei.

quarta-feira, 3 de setembro de 2008

RACISMO OU ORGULHO BRANCO???


O politicamente incorrecto...muito bem.

Michael Richards conhecido como Kramer da série televisiva Seinfeld, levantou um bom problema. O que se segue é o seu discurso de defesa em tribunal depois de ter feito alguns comentários raciais na sua peça de comédia.
Ele levanta alguns pontos muito interessantes.

Orgulho em ser Branco

Finalmente alguém diz isto.

Quantas pessoas estão actualmente a prestar atenção a isto?

Existem Afro-Americanos, Americanos Hispânicos, Americanos Asiáticos, Americanos Árabes, etc. E depois há os apenas Americanos.

Vocês passam por mim na rua e mostram arrogância. Chamam-me 'White boy,' 'Cracker,' 'Honkey,' 'Whitey,' 'Caveman' ...e está tudo bem. Mas quando eu vos chamo Nigger, Kike, Towel head, Sand-nigger, Camel Jockey, Beaner, Gook, or Chink . Vocês chamam-me racista.

Quando vocês dizem que os Brancos cometem muita violência contra vocês, então porque razão os ghettos são os sítios mais perigosos para se viver?

Vocês têm o United Negro College Fund.
Vocês têm o Martin Luther King Day.
Vocês têm Black History Month.
Vocês têm o Cesar Chavez Day.
Vocês têm o Yom Hashoah.
Vocês têm o Ma'uled Al-Nabi.
Vocês têm o NAACP.
Vocês têm o BET [Black Entertainment Television] (tradução: Televisão de Entretenimento para pretos)
Se nós tivéssemos o WET [White Entertainment Television] seriamos racistas.
Se nós tivéssemos o Dia do Orgulho Branco, vocês chamariam-nos racistas.
Se tivéssemos o mês da História Branca, éramos logo racistas.
Se tivéssemos alguma organização para ajudar apenas Brancos a andarem com a sua vida para frente, éramos logo racistas.

Existem actualmente a Hispanic Chamber of Commerce, a Black Chamber of Commerce e nós apenas temos a Chamber of Commerce. Quem paga por isto?

Uma mulher Branca não pode ser a Miss Black American, mas qualquer mulher de outra cor pode ser a Miss America.

Se nós tivéssemos bolsas direccionadas apenas para estudantes Brancos, éramos logo chamados de racistas.

Existem por todos os EUA cerca de 60 colégios para Negros. Se nós tivéssemos colégios para Brancos seria considerado um colégio racista.

Os pretos têm marchas pela sua raça e pelos seus direitos civis, como a Million Man March. Se nós fizéssemos uma marcha pela nossa Raça e pelos nossos direitos seriamos logo apelidados de racistas.

Vocês têm orgulho em ser pretos, castanhos, amarelos ou laranja, e não têm medo de o demonstrar publicamente. Mas se nós dissermos que temos 'Orgulho Branco', vocês chamam-nos racistas.

Vocês roubam-nos, fazem-nos carjack, disparam sobre nós. Mas, quando um oficial da policia Branco dispara contra um preto de um gang ou pára um traficante de droga preto que era um fora-da-lei e um perigo para a sociedade, vocês chamam-no racista.

Eu tenho orgulho. Mas vocês chamam-me racista.
Porque razão só os Brancos podem ser chamados de racistas?

sábado, 16 de agosto de 2008

QUINTA DA FONTE - LOURES


Limpeza étnica

O homem, jovem, movimentava-se num desespero agitado entre um grupo de mulheres vestidas de negro que ululavam lamentos. "Perdi tudo!" "O que é que perdeu?" perguntou-lhe um repórter.

"Entraram-me em casa, espatifaram tudo. Levaram o plasma, o DVD a aparelhagem..." Esta foi uma das esclarecedoras declarações dos auto desalojados da Quinta da Fonte. A imagem do absurdo em que a assistência social se tornou em Portugal fica clara quando é complementada com as informações do presidente da Câmara de Loures: uma elevadíssima percentagem da população do bairro recebe rendimento de inserção social e paga "quatro ou cinco euros de renda mensal" pelas habitações camarárias.
Dias depois, noutra reportagem outro jovem adulto mostrava a sua casa vandalizada, apontando a sala de onde tinham levado a TV e os DVD. A seguir, transtornadíssimo, ia ao que tinha sido o quarto dos filhos dizendo que "até a TV e a playstation das crianças" lhe tinham roubado. Neste país, tão cheio de dificuldades para quem tem rendimentos declarados, dinheiro público não pode continuar a ser desviado para sustentar predadores profissionais dos fundos constituídos em boa fé para atender a situações excepcionais de carência. A culpa não é só de quem usufrui desses dinheiros. A principal responsabilidade destes desvios cai sobre os oportunismos políticos que à custa destas bizarras benesses, compraram votos de Norte a Sul.
É inexplicável num país de economias domésticas esfrangalhadas por uma Euribor com freio nos dentes que há famílias que pagam "quatro ou cinco Euros de renda" à câmara de Loures e no fim do mês recebem o rendimento social de inserção que, se habilmente requerido por um grupo familiar de cinco ou seis pessoas, atinge quantias muito acima do ordenado mínimo. É inaceitável que estes beneficiários de tudo e mais alguma coisa ainda querem que os seus T2 e T3 a "quatro ou cinco euros mensais" lhes sejam dados em zonas "onde não haja pretos". Não é o sistema em Portugal que marginaliza comunidades. O sistema é que se tem vindo a alhear da realidade e da decência e agora é confrontado por elas em plena rua com manifestações de índole intoleravelmente racista e saraivadas de balas de grande calibre disparadas com impunidade. O país inteiro viu uma dezena de homens armados a fazer fogo na via pública. Não foram detidos embora sejam facilmente identificáveis. Pelo contrário. Do silêncio cúmplice do grupo de marginais sai eloquente uma mensagem de ameaça de contorno criminoso - "ou nos dão uma zona etnicamente limpa ou matamos." A resposta do Estado veio numa patética distribuição de flores a cabecilhas de gangs de traficantes e auto denominados representantes comunitários, entre os sorrisos da resignação embaraçada dos responsáveis autárquicos e do governo civil.
Cá fora, no terreno, o único elemento que ainda nos separa da barbárie e da anarquia mantém na Quinta da Fonte uma guarda de 24 horas por dia com metralhadoras e coletes à prova de bala. Provavelmente, enquanto arriscam a vida neste parque temático de incongruências socio-políticas, os defensores do que nos resta de ordem pensam que ganham menos que um desses agregados familiares de profissionais da extorsão e que o ordenado da PSP deste mês de Julho se vai ressentir outra vez da subida da Euribor. por Mário Crespo, jornalista da SIC.

Tinha que compartilhar convosco este texto deste grande jornalista do panorama noticioso português. É representativo do estado a que chegou este país e esta sociedade.

Os meus agradecimentos ao Mário Crespo.

quinta-feira, 3 de julho de 2008

FUNÇÃO PÚBLICA



Eu agora venho falar-vos dum problema grave.

Desculpem trazer aqui um problema que é meu. E que ainda por cima é grave... Quero falar-vos da Função Pública. (Eu disse que era grave...)

A coisa começa logo por ser grave pelo nome: Função Pública.

«Função... Função... Função...»

Só um estrangeiro - e de um país distante, com uma língua cheia de @s, &s e £s (tipo Suécia, Finlândia ou Austrália) - é que pode pensar que «função» é uma coisa simples, facilmente definível... Só um estrangeiro que nunca cá tenha estado.

Nós próprios já devemos ter pensado assim, que era simples. Talvez no início do vapor, da era industrial. «Vai começar a função!»... É uma expressão antiga. Já praticamente ninguém a diz. Porque dizer «vai começar a função» queria dizer que a função ia mesmo começar. Hoje já ninguém arrisca dizer uma coisa dessas.

Na época do vapor era preciso extrair o carvão - ou importá-lo (nasceram aí as folhas de importação!...) -, metê-lo numa caldeira, acender a fornalha... e depois a fornalha aquecia a água, a água, depois de atingir os 100 graus da química ou da física, fazia vapor e esse vapor fazia... a função começar.

O «vai começar a função!» fazia sentido. A gente anunciava, leva atempo mas começava. Funcionava. Tinha uma função.

Mas nós, portugueses, juntámos o «pública» à função. O que pressupõe que mete mais gente... O que torna logo a coisa mais complicada...

Pública... «Pública» quer dizer que é para o público - que é muita gente, supostamente, se não for uma coisa experimental... - e que esse público em princípio deve estar informado sobre ela - e por isso é «pública».

Eu até acredito que na era do vapor a ideia fosse pôr as coisas a funcionar e duma forma pública, acessível a toda a gente. Aquela coisa: «Liberdade, igualdade, fraternidade», «Proletários de todos os países uni-vos», etc. A coisa era a vapor, levava tempo a aquecer, mas pressupunha-se que ia funcionar para toda a gente - «pública»...

Não.

A Função Pública, já todos o sabemos, não é para funcionar. Levámos praí 200 anos a chegar a esta conclusão... É uma vida...

É que a coisa começa logo por cima: pelo Presidente. O Presidente da Ré-pública (o Presidente da Função Pública, porque em Portugal a república é a função pública e o resto é malta que só atrapalha...) o Presidente não tem grandes poderes. Pode fazer discursos «orientadores». Pode falar... Mas será que ele tem uma função?

Não... É pública, sim, mas não é «função»...

A coisa até se pode compreender: é para deixar o governo trabalhar.

O governo... O governo... O governo tem uma função, isso é público. O governo tem a função de cumprir o seu programa - que é tornado público nas eleições... A coisa até está bem pensada...

Mas o problema do governo é que é a cabeça - chamemos-lhe assim - da função pública... E a gravidade da situação começa logo aí. Porque o governo chega cheio de ideias - estou a exagerar, mas supondo... - para governar a função pública - o que é mais um problema, e grave...

Mas felizmente há o Director-Geral! O Director-Geral tem a sua função! O Director-Geral tem a função de explicar ao ministro que disse em campanha eleitoral que ia fazer não sei o quê (a gente também já não leva a coisa muito a sério...), que a coisa não é assim tão simples...

(Agora aqui peço-vos para fazerem um esforço e pensarem que o candidato quando chegou ao governo tentou mesmo fazer aquilo que tinha andado a prometer, porque se não partirmos desse princípio então ninguém se entende.)

O Director-Geral, ao tentar explicar porque é que o ministro - ministro ou qualquer um de nós que precise de fazer alguma coisa com a função pública - não pode fazer aquilo que pensou que ia fazer, o Director-Geral está a dar a conhecer a Função Pública.

Que, no fundo, é o quê?...

Isso só o Director de Serviços pode explicar...

O Director de Serviços pode então finalmente explicar ao Director-Geral o que é o seu serviço. (O que são os outros serviços este Director de Serviços nem tenta explicar porque cada um sabe de si e Deus... que se entenda porque isto já é suficientemente complicado e eu já tenho uma série de problemas que me preocupem no meu serviço.)

Ora o serviço do Director de Serviços da Função Pública é explicar a todos os funcionários do seu serviço que não podem fazer agora o que estavam a fazer antes porque o procedimento foi alterado... por quem? Pelo ministro - que obviamente não percebe nada do que anda a fazer porque não conhece a Função Pública.

Estava-me a esquecer de falar no papel... O papel de cada um... Que é muito importante. Cada funcionário tem o seu. E isso é ponto assente. Não vamos baralhar os papéis.

E quando falo em papel é, pelo menos, uma folha A4. A folha A4 de cada um - que só existe para que o papel de cada um fique bem definido. Por escrito!... Para não haver confusões.

Claro que depois há uma série de funcionários cujo papel é tratar do papel de cada funcionário, para que o seu papel - a sua função! - fique bem clara. Mas isso já nem é um problema: é assim!

Bom...

Eu disse que isto era complicado...

Ora toda a gente sabe que o funcionário público ganha mal. Claro que não estou a falar do fiscal, que ganha mal mas vive inexplicavelmente bem. Não, estou a falar do funcionário público normal, que tem um emprego estável - excepção feita aos funcionários públicos que são os elementos das forças de segurança que têm um «emprego» nada estável - mas ganha mal.

O funcionário público tem aumentos que acompanham a inflação anunciada pelo governo - que, lá está, pensa em fazer uma coisa mas depois não consegue -, é sempre menor que a real, o funcionário público ganha cada vez menos.

Ora, não se pode pedir a uma pessoa que ganha cada vez menos que se preocupe em fazer aquilo que nem um ministro consegue fazer.

Uma pessoa que ganha cada vez menos não tem incentivos para fazer cada vez mais. É o contrário. E eu percebo e conheço o problema. Daí serem necessários cada vez mais funcionários públicos para fazerem o trabalho que o Presidente, os ministros, os Directores-Gerais, os Directores de Serviços, os assessores, etc., inventam, até chegarem à conclusão que não é possível mexer em nada.

E eu percebo que um funcionário que vive isto, o mínimo que exija é que o seu emprego seja estável. E que, portanto, ninguém pense em mexer em nada... Percebe-se...

É por isso que a Função Pública não mexe, não se altera. Não pode funcionar. E com ela o Presidente, o governo e tudo o resto. O que é grave. Estão a ver agora o meu problema???

terça-feira, 3 de junho de 2008

PROFISSÕES DE FUTURO


Em Portugal só há duas profissões rentáveis.
Ou melhor, obscenamente rentáveis:
A profissão de futebolista e a de gestor público.
É para aí que devemos empurrar os nossos filhos. Se eles não quiserem obriguem-nos, subornem-nos, batam-lhes, batam nos professores deles, que até está na moda, mas certifiquem-se que os pirralhos enveredam por essas profissões.
Se o seu filho for apenas médico, actor ou polícia você vai acabar a constatar, um dia mais tarde, com resignação e desalento:
- Andei eu a criar um filho para isto.
Comecemos pelos futebolistas. Apesar de agora as coisas terem mudado um bocadinho, até há bem pouco tempo pagavam menos impostos e menos segurança social que todos nós. Era um regime especial que protegia os atletas e os fazia poupar gasolina para os Ferraris, os Porches, os Lamborghinis e para os Bentleys. Um miminho do Estado para a rapaziada da bola.
Mas melhor é, sem dúvida, a vida de gestor público de uma Galp, ou de uma Caixa Geral de Depósitos. Ganha-se rios de dinheiro, não se faz a ponta de um chavelho, tem-se carro, motorista, despesas de representação, prémios, cartão de crédito com plafom mensal e o diabo a quatro. Ou seja, um gestor público é um nababo das arábias, excepto nas torneiras de ouro das casas de banho lá da residência. Mas é só porque a firma das tais torneiras ainda não tem representante cá. Quando tiver, é sempre a aviar cartucho.
No cume de toda esta rapaziada jeitosa está o governador do Banco de Portugal.
O rajá.
O chefe dos nababos.
Um ser semidivino que sabe a tabuada de cabeça e que ganha 280 mil euros por ano, mais os benefícios todos que referi há bocado e ainda mais um ou outro por saber a tabuada de cor.
Estou a exagerar?
Não estou. Não estou porque descobri que o tipo que ocupa o mesmo cargo nos Estados Unidos da América ganha metade. Mas todos sabemos que os Estados Unidos são um país pobre comparado com este ninho de nababos das arábias que é Portugal. Agora sei porque é que se chama governador ao governador. Quem ocupa o cargo governa-se bem.
Quanto ao meu filho está bem encaminhado.
Não sei se ele pode ser gestor público e jogar bem à bola na mesma, ou se pode ser jogador e mesmo assim saber a tabuada de cor. Mas, neste momento, remata bem, sabe a tabuada de cor e, por isso, tem as duas saídas profissionais em aberto. Há que jogar pelo seguro. Se não fosse assim ainda me acabava para aí como médico ou director da polícia e depois queria ver como é que ele se safava.
Livra!

domingo, 25 de maio de 2008

RESUMINDO...


Para quê perder tempo a ler milhares de páginas ?!!
Leia apenas os resumos das grandes obras.

-Leao Tolstoi -"GUERRA E PAZ" ( 1800 paginas ) Um rapaz não quer ir à guerra e por isso Napoleão invade Moscovo. a rapariga casa-se com outro. FIM

-Luis de Camões - "LUSIADAS" ( várias edições ) Um poeta com insónias decide chatear o Rei e contar-lhe uma História de marinheiros que, depois de alguns problemas (logo resolvidos por uma deusa porreiraça), tem o justo prémio numa ilha cheia de gajas boas. FIM

-Gustave Flaubert -"MADAME BOVARY" ( 378 paginas ) Uma dona de casa engana o marido com o padeiro o leiteiro o carteiro o homem do talho o merceeiro e um vizinho cheio de massa. Envenena-se e morre. FIM

-William Shakespeare -"HAMLET" Um príncipe com insónias passeia pelas muralhas do castelo, quando o fantasma do pai lhe diz que foi morto pelo tio que dorme com mãe, cujo homem de confiança é o pai da namorada que entretanto se suicida ao saber que o principe matou o seu pai para se vingar do tio que tinha matado o pai do seu namorado e dormia com a mãe. O príncipe mata o tio que dorme com a mãe,depois de falar com uma caveira e morre, assassinado pelo irmão da namorada, a mesma que era doida e que se tinha suicidado. FIM

-NOVO TESTAMENTO ( 4 versões ) Uma mulher com insónias dá à luz um filho cujo pai é uma pomba, o filho cresce e abandona a carpintaria para formar uma seita de pescadores. Por causa de um bufo,é preso e morre. FIM

segunda-feira, 5 de maio de 2008

PUBLICIDADE II


Aqui há uns tempos andava uma exposição pelo país para nos ajudar a escolher os monumentos que passariam a figurar na lista das «maravilhas de Portugal». Não sei quem é que foi a mente desocupada que se lembrou de inventar esta necessidade de descobrir o que nós pensamos que são as maravilhas de Portugal.
Deve ser primo do tipo que inventou a necessidade de sabermos quem foram os maiores portugueses.
Acho que é curiosidade a mais da parte de não sei quem para saber o que pensamos. E logo num país onde o referendo sobre o tratado europeu não é para ser feito porque o governo não quer saber o que pensamos sobre uma coisa que pode mudar o nosso futuro. Mas pronto... há assuntos e assuntos.
A tal exposição sobre as maravilhas de Portugal, para além de já ter sido mesmo uma novidade, ainda foi anunciada como um «road show».
Road Show???
O que é isto?
Eu não vi o que era, mas será que era uma exposição itinerante?
Ou seja, uma exposição que andava pelo país todo. Se é isso porque é que não se chamava exposição itinerante. Porquê «road show»?
E o que é um road show?
Não percebo.
Tom-tom. Find your way the easy way.
Ford. Feel the difference.
Panasonic. Ideas for life.
Isto é publicidade. Isto são as frases finais de alguns anúncios e algumas marcas. As marcas querem definir-se numa pequena frase final.
Mas em Portugal porque será que as marcas se querem definir em inglês?
Será que os representantes dessas marcas, que são ingleses ou americanos, querem perceber eles próprios o que os anúncios deles dizem e portanto fazem esta parte final só para eles?
Eu não percebo nada do que esta porcaria diz, mas a parte final está good. Será isto?
Será que a agência portuguesa, sim portuguesa porque praticamente todos os anúncios que passam nos nossos meios de comunicação social, ou os media em inglês, são produzidos por agências lusas, quer mostrar à marca estrangeira que está a fazer um bom trabalho?
E porque é que não faz?
Vão-me dizer que a marca, como é inglesa ou americana, quer uma frase na sua língua?
Embora eu duvide que seja isto que se passa, então porque é que uma marca japonesa como a Honda diz «the power of dreams» e não «akanoka irossai»?
E outra diz «today, tomorrow, Toyota», não é «tolita, tolota, Toyota»?
E vão-me dizer que os alemães de um banco que ainda por cima se chama Deutsche Bank (ou seja, Banco Alemão) dizem uns para os outros na Alemanha «a passion to perform» em inglês?
Vão-me dizer que são regras a que os anunciantes obrigam? E eu pergunto: e porque é que nós não obrigamos os anunciantes a anunciarem em português, já que estão em Portugal e querem que nós compremos as coisas que eles fazem?
Não será que estaremos a ser subservientes de mais?
Não será que as agências estão a perder o orgulho de serem portuguesas e estão mesmo com vergonha de serem portuguesas?
E nós todos temos de aguentar com isso na publicidade com que nos bombardeiam?
É que ao menos os espanhóis da Seat têm o orgulho de nos sussurrar «auto emoción». Era bom que começássemos a aprender alguma coisa com eles. Am I right???

sexta-feira, 25 de abril de 2008

JEAN MICHEL JARRE EM LISBOA



Acabei de regressar do concerto que o Jean Michel Jarre deu no Coliseu dos Recreios. Concerto com a audiência esgotada o que já por si constitui uma agradável surpresa visto não ter noção de que o artista em causa pudesse ser tão conhecido por cá.
A minha impressão numa só expressão: UAU!!!
O desempenho musical foi praticamente sem falhas, o som estava alto mas muito nítido e muito claro, o espelho esteve numa sincronia perfeita, as luzes e os focus de luz estiveram no ponto certo e a apontar para os "alvos".
Jean Michel Jarre esteve sempre muito participativo e interagindo com o público, saltando de forma muito energética durante o concerto.
Após a actuação, procurei a porta de saída dos artistas do Coliseu e como poucas pessoas sabiam onde era e sequer que ele poderia dar autógrafos, quando cheguei àquela saída, só estavam lá mais 3 fãs. Pouco tempo depois, saíram ao mesmo tempo os outros músicos dele, o Francis, o Dominique e o Claude que de forma muito simpática, assinaram alguns autógrafos aos fãs que entretanto já tinham aumentado para um impressionante número de 7. Passado mais alguns minutos, surge Jean Michel Jarre, a quem não só lhe pedi que me autografasse as capas de 2 dvds como me deixou tirar uma foto a seu lado, que será aqui colocada posteriormente, pude ainda trocar algumas impressões com ele, tendo eu no final agradecido-lhe por tudo.
Resumindo, tive um orgasmo áudio-visual e ainda estou ecstasiado com tanta emoção vivida e de forma tão intensa.




Finalmente, O FÃ encontra-se com O MAESTRO.
Jean Michel, merci beaucoup.

25 DE ABRIL? O QUE É ISSO?


Hoje é 25 de Abril.
Para quem tem mais de 40 aos este é o dia da revolução.
Para os jovens de trinta anos esta é uma data longíqua, mas familiar que lhes permitiu viver em liberdade.
Para os sub-30 este só é o dia da liberdade porque é feriado e têm o dia livre.
Se fossem eles os culpados de tal ignorância confesso que me apetecia corrê-los a todos ao calduço. Mas não são. Culpados são os que deixaram esquecer que dia é hoje. Ou seja, os responsáveis pela educação, que é como quem diz, os políticos. São eles que merecem inteiramente um belo e repimpado calduço nas orelhas.
Não podemos deixar esquecer o 25 de Abril.
Há quem venha com a conversa de que a nossa democracia atingiu um grau de maturidade que já não vale a pena falar da data a toda a hora. Para esses eu lembro que Salazar venceu há pouco tempo o concurso para o maior português de sempre e há quem queira fazer um museu.
Além disso, fazem-se musicais e peças sobre Salazar. Ou seja, o homem, que foi ditador, parece que está na berra. É quase uma popstar. E só não participa no «Dança Comigo» da RTP porque já empacotou há muito, senão lá estava ele a dar piruetas em frente ao João Baião.
Ou seja, mais uma vez quem acha que não se deve falar do que significa o 25 de Abril também merece um belo par de calduços.
Além disso, os últimos governos, bem como o actual, fazem tudo para conseguirem controlar os média. Para eles a liberdade de impressa é algo nefasto, como antes do 25 de Abril. Não os denunciar, deixá-los controlar tudo é esquecer o que a revolução trouxe.
Por isso, quem deixa que tudo isso aconteça em silêncio, também merece um belo calduço.
Um daqueles bem puxados atrás.
Por último reaparaceu, vinda dos quintos dos infernos, essa seita que são os skinheads, comandados por um homenzinho de olhar esbugalhado que achou por bem meter um cartaz com a sua fronha e uma mensagem xonófoba no Marquês, como se as obras do túnel não chegassem para poluir visualmente a zona. Não relembrar o 25 de Abril é permitir que essa gente apareça com a sua mensagem violenta e racista.
Para esses um camião TIR de calduços não chega.
Quanto a mim:
Hei-de sempre falar da liberdade. Podem ter a certeza que não me calo com isto.
Nem ao calduço.

terça-feira, 15 de abril de 2008

PUBLICIDADE


Eu bem tento, mas não consigo escapar à publicidade. Na televisão são aqueles intervalos tão grandes que, quando acabam, já não nos lembramos do programa ou filme que estávamos a ver e a barba já nos dá pelo umbigo.
Além disso, enquanto estivémos à espera, fomos zapando e vimos os começos ou finais de outros programas e filmes noutros canais. E depois misturamos tudo, pelo que às vezes damos por nós a perguntar:
Então, mas o que é que o Júlio Isidro está a fazer neste filme do espaço?
Na TVCabo há agora cada vez mais publicidade precisamente naqueles canais que eu gosto de ver. Eu estava convencido que na TVCabo não iria haver anúncios porque já pagamos para ter canais. Tenho mesmo a impressão de que um dos argumentos da TVCabo era precisamente o de não ter publicidade. mas enganei-me, mais uma vez, ou enganaram-me ou... já não me lembro.
Portanto sou obrigado a ver tanta publicidade que me sinto com algum à-vontade para tecer uns comentários. Sou quase um Nuno Rogério dos anúncio, por isso cá vai disto.
Há uns tempos andaram a anunciar um aparelho de GPS da seguinte maneira:
- Abrande para 80 km. Uf! íamos sendo apanhados. GPS marca tal!
Ou seja, é uma marca de GPS que é a indicada para detectar as brigadas de trânsito que estão escondidas para nos caçar quando vamos em excesso de velocidade. Não fixei o nome do produto, mas se lhe chamarem «O GPS do Chico Esperto» acertam em cheio.
Antigamente estes produtos eram, obviamente, proibidos. Mas hoje em dia a chico espertice é algo de tão forte e enraizado na nossa sociedade que já deve ser permitido outra vez.
Só não percebi bem ainda se estes aparelhos detectam os agentes - e são proibidos, porque os agentes não são estúpidos - ou é a publicidade que é só enganosa e, portanto, deveria ser proibida. Ou então é só uma piada do anunciante que, como se vê, tem um sentido de humor tão infeliz como o do ministro Mário Lino.
Outra estratégia que eu não entendo é a de uma cadeia de lojas que apresenta um tipo histérico aos gritos a dizer uns preços de uns artigos que eles vendem O tipo, no meio da berraria diz com um sorriso apatetado que vai comprar porque:
«Eu é que não sou parvo!»
Portanto, o que eles me estão a dizer é que eu, que nunca fui àquela loja, nem sei onde é, nem nunca a vi, nem sequer gosto de pessoas que gritem comigo, sou parvo.
Ora, a primeira coisa que penso quando ouço um tipo aos gritos é que ele é parvo e quando ouço um tipo que é parvo a chamar-me parvo fico sem vontade de o conhecer e se, ainda por cima, ele está a dizer para eu ir comprar não sei o quê não sei aonde, pura e simplesmente não vou.
Não entendo.
Há um outro anúncio muito significativo.
Um rapaz entra numa loja envergonhado e diz:
- Quero preservativos.
A empregada, sem lhe fazer notar que ele não disse sequer se faz favor, diz:
- Desculpe?
O rapaz põe logo uma cara de mete nojo e repete:
- Preservativos!
Com o ar de quem já disse uma vez e só está a repetir porque a empregada é surda...
O que acontece é que afinal o puto não está numa farmácia e além de malcriado é cegueta.
A ideia até é gira, embora me pareça ser retirada de uma anedota.
Mas, já agora, o puto tinha necessidade de ser mal-educado?
O que é que estes publicitários querem dizer com estas coisas?
Será que têm a ideia que se nos chamarem parvos nós vamos comprar?
Será que aquele anúncio é para vender óculos só a putos malcriados?
Ou sou eu que sou antiquado e hoje em dia já se pode chamar parvo aos clientes e ser ma-educado à vontade e em plena televisão?
Sem querer ser eu mal-educado e muito menos Chico Esperto, a verdade é que este pessoal parece que anda todo meio aparvalhado, não acham?
in, Os jeitosos Continuam à Solta de José Pedro Gomes.

quarta-feira, 5 de março de 2008

NO MEU CORAÇÃO


Na nossa hora mais negra,
No meu profundo desespero,
Um futuro melhor eu espero.
Tomarás tu conta de mim?
Estarás tu lá por mim?
Nas minhas irritações?
Nos meus problemas?
Nas nossas dúvidas e frustrações?
Na minha violência e turbulência?
Através do meu medo
E das minhas confissões?
Na minha angústia
E na minha dor?
Para minha alegria
E arrependimento,
Eu próprio o lamento.
Mas na promessa
De um outro amanhã.
Nunca te deixarei partir
E nunca te deixarei em vão.
Porque estarás sempre
No meu coração.

quarta-feira, 6 de fevereiro de 2008

VIAJAR


Viajar é um estado de espírito.
É descobrir lugares e
Sentir a magia do silêncio.
É fazer amor e render o
Corpo, cansado, ao olhar
E ao toque da pele, suada.
É floresta cerrada
Que sussurra melodias,
Ou deserto imenso onde é bom
Repousar o peito, arfante.
Eu sou o eterno viandante.
Acordo e descubro a manhã
Que lentamente me
Acaricia o corpo.
Ouço os sons que o
Mundo tem para me
Dizer, e aprendo.
Perco-me por entre
O frio do vento que me
Encanta e com ele
Por vezes me deixo seduzir.
Amo, e descubro o
Lugar que tu és.
Viajar é um conceito.
A paisagem que desfila do
Outro lado do vidro.
As casas anónimas de
Janelas apagadas
E, aqui e ali, a luz ténue.
A cidade.
Esse tapete informe
Onde nos deitamos
À escuta da alma,
E ouvimos o latejar
Do nosso coração.
A música.
Maresia sempre presente,
Salpicando a branca paleta
Do teu corpo,
Harmonia que dele salta e
Se desfaz como a espuma
Farta no fundo da falésia.
O olhar que percorre
As fachadas tristes,
E descobre sempre no granito,
O mistério.
Assim sou eu.
E assim te faço viajar.

domingo, 27 de janeiro de 2008

PROCURA


Estou à tua procura
Nesta rua movimentada.
Rostos mudos cruzam-se
À minha frente.
Olhares desencontrados
Que observam sem olhar.
Procuro o teu rosto
No meio da multidão.
Estou à espera…
Olhei… Vi-te…
Chamei por ti.
Não te ouvi… Corri…
Perdi-te outra vez
No mar de olhares
Desencontrados.
Parei… Olhei…
Gritei pelo teu nome.
Ouvi a tua voz,
Não te vejo,
Não te encontro.
Procuro o teu rosto.
Quero encontrar o teu olhar.
Olhei… Chamei…
Finalmente os nossos
Olhares cruzaram-se
Neste momento de desencontro.
Estavas ali,
A um passo de mim,
E eu não te vi…