domingo, 21 de março de 2010

É À BÓRLIÚ?


Há uma espécie de lenda que faz com que português seja, ainda hoje, sinónimo de borlista em Itália. Ao que parece um dos nossos reis a certa altura terá sido convidado a visitar as cortes italianas. O convite pressupunha que sua alteza do reino de Portugal, bem como a sua comitiva, nada pagariam durante toda a visita. Escusado será dizer que os membros da comitiva eram mais que as mães e que foi sempre a despachar no que toca a falcatruas, roubos e dívidas por pagar. Ou seja, foi mais ou menos o equivalente ao que a claque dos Superdragões costuma fazer na estação de serviço de Aveiras.

Não sei se esta história é de facto verdadeira (até porque não tive oportunidade de conversar com o Professor José Hermano Saraiva), mas uma coisa é certa:

Não há nada por que um português mais se pele do que por qualquer coisita grátis ou, como se diz na gíria, à bórliú.

Se um champô oferecer um amaciador o português não hesita em comprá-lo. Nem que seja careca como um ovo e na realidade não precise nem de champô nem de amaciador;

Se uma festa tem bar aberto até os abstémios bebem gasosas atrás de gasosas, de penálti só para aproveitar;

Se num cocktail há acepipes de salmão então há que enfardar às dúzias, mesmo que sejamos alérgicos a peixe. A mentalidade é, mais vale fazer mal do que desperdiçar.

E esta mentalidade é, obviamente, transversal a todas as camadas sociais. Por isso é que há tempos vinha uma notícia no Expresso sobre um caso destes. Parece que a Coudelaria de Alter do Chão, que por acaso é uma casa de férias do Estado, andava a ser usada por várias figuras, a começar por ministros do anterior governo, para fazer férias à borla.

O que até seria bem visto pelos portugueses em geral dada a nossa propensão para não só usar o esquema do bórliú, como também admirar quem o pratica com requinte e savoir faire.

O problema é que quando é à borla alguém tem de pagar. E neste caso quem paga somos todos nós. Isso mesmo, todos nós.

Ora é aqui que todo o pensamento do português em relação aos benefícios do bórliú se inverte. Quando lhe sai do bolso a coisa perde a piada e alguém acaba por levar com a factura.

No caso do governo essa factura pode acabar por ser apresentada na altura das eleições. Por isso vamos lá a ter cuidado, senhores governantes, que isto já começa a ser de mais. É um conselho que vos dou e que devem aproveitar. Até porque é grátis.

Ou melhor, é à bórliú!