domingo, 26 de abril de 2009

25 DE ABRIL SEMPRE???

Mais um ano volvido sobre a "revolução" de 1974 e continuamos a acreditar que vivemos num regime democrático.
Mais um ano volvido sobre a "revolução" de 1974 e continuamos a gritar: "25 de Abril SEMPRE".
"25 de Abril SEMPRE"???
Mas sempre vivemos essa "revolução"???
Essa "revolução" teve mesmo lugar???

Tenho a sensação de que continuamos, pávidos e serenos, à espera que o "25 de Abril" realmente ocorra.

Para vos ajudar a compreender um pouco melhor o meu ponto de vista, compartilho convosco um texto da jornalista Clara Ferreira Alves, publicado no semanário "Expresso".

Não admira que num país assim emerjam cavalgaduras, que chegam ao topo, dizendo ter formação, que nunca adquiriram, que usem dinheiros públicos (fortunas escandalosas) para se promoverem pessoalmente face a um público acrítico, burro e embrutecido.


Este é um país em que a Câmara Municipal de Lisboa, desde o 25 de Abril distribui casas de RENDA ECONÓMICA - mas não de construção económica - aos seus altos funcionários e jornalistas, em que estes últimos, em atitude de gratidão, passaram a esconder as verdadeiras notícias e passaram a "prostituir-se" na sua dignidade profissional, a troco de participar nos roubos de dinheiros públicos, destinados a gente carenciada, mas mais honesta que estes bandalhos.


Em dado momento a actividade do jornalismo constituiu-se como O VERDADEIRO PODER. Só pela sua acção se sabia a verdade sobre os podres forjados pelos políticos e pelo poder judicial. Agora contínua a ser o VERDADEIRO PODER mas senta-se à mesa dos corruptos e com eles partilha os despojos, rapando os ossos ao esqueleto deste povo burro e embrutecido. Para garantir que vai continuar burro o grande cavallia (que em português significa cavalgadura) desferiu o golpe de morte ao ensino público e coroou a acção com a criação das Novas Oportunidades.


Gente assim mal formada vai aceitar tudo e o país será o pátio de recreio dos mafiosos.
A justiça portuguesa não é apenas cega. É surda, muda, coxa e marreca.


Portugal tem um défice de responsabilidade civil, criminal e moral muito maior do que o seu défice financeiro, e nenhum português se preocupa com isso, apesar de pagar os custos da morosidade, do secretismo, do encobrimento, do compadrio e da corrupção. Os portugueses, na sua infinita e pacata desordem existencial, acham tudo "normal" e encolhem os ombros. Por uma vez gostava que em Portugal alguma coisa tivesse um fim, ponto final, assunto arrumado. Não se fala mais nisso. Vivemos no país mais inconclusivo do mundo, em permanente agitação sobre tudo e sem concluir nada.


Desde os Templários e as obras de Santa Engrácia, que se sabe que, nada acaba em Portugal, nada é levado às últimas Consequências, nada é definitivo e tudo é improvisado, temporário, desenrascado.


Da morte de Francisco Sá Carneiro e do eterno mistério que a rodeia, foi crime, não foi crime, ao desaparecimento de Madeleine McCann ou ao caso Casa Pia, sabemos de antemão que nunca saberemos o fim destas histórias, nem o que verdadeiramente se passou, nem quem são os criminosos ou quantos crimes houve.


Tudo a que temos direito são informações caídas a conta-gotas, pedaços de enigma, peças do quebra-cabeças. E habituámo-nos a prescindir de apurar a verdade porque intimamente achamos que não saber o final da história é uma coisa normal em Portugal, e que este é um país onde as coisas importantes são "abafadas", como se vivêssemos ainda em ditadura.
E os novos códigos Penal e de Processo Penal em nada vão mudar este estado de coisas. Apesar dos jornais e das televisões, dos blogs, dos computadores e da Internet, apesar de termos acesso em tempo real ao maior número de notícias de sempre, continuamos sem saber nada, e esperando nunca vir a saber com toda a naturalidade.


Do caso Portucale à Operação Furacão, da compra dos submarinos às escutas ao primeiro-ministro, do caso da Universidade Independente ao caso da Universidade Moderna, do Futebol Clube do Porto ao Sport Lisboa Benfica, da corrupção dos árbitros à corrupção dos autarcas, de Fátima Felgueiras a Isaltino Morais, da Braga Parques ao grande empresário Bibi, das queixas tardias de Catalina Pestana às de João Cravinho, há por aí alguém quem acredite que algum destes secretos arquivos e seus possíveis e alegados, muitos alegados crimes, acabem por ser investigados, julgados e devidamente punidos?


Vale e Azevedo pagou por todos?


Quem se lembra dos doentes infectados por acidente e negligência de Leonor Beleza com o vírus da sida?


Quem se lembra do miúdo electrocutado no semáforo e do outro afogado num parque aquático?


Quem se lembra das crianças assassinadas na Madeira e do mistério dos crimes imputados ao padre Frederico?


Quem se lembra que um dos raros condenados em Portugal, o mesmo padre Frederico, acabou a passear no Calçadão de Copacabana?


Quem se lembra do autarca alentejano queimado no seu carro e cuja cabeça foi roubada do Instituto de Medicina Legal?


Em todos estes casos, e muitos outros, menos falados e tão sombrios e enrodilhados como estes, a verdade a que tivemos direito foi nenhuma.


No caso McCann, cujos desenvolvimentos vão do escabroso ao incrível, alguém acredita que se venha a descobrir o corpo da criança ou a condenar alguém?
As últimas notícias dizem que Gerry McCann não seria pai biológico da criança, contribuindo para a confusão desta investigação em que a Polícia espalha rumores e indícios que não têm substância.


E a miúda desaparecida em Figueira? O que lhe aconteceu? E todas as crianças desaparecida antes delas, quem as procurou?


E o processo do Parque, onde tantos clientes buscavam prostitutos, alguns menores, onde tanta gente "importante" estava envolvida, o que aconteceu?


Arranjou-se um bode expiatório, foi o que aconteceu.


E as famosas fotografias de Teresa Costa Macedo? Aquelas em que ela reconheceu imensa gente "importante", jogadores de futebol, milionários, políticos, onde estão? Foram destruídas? Quem as destruiu e porquê?


E os crimes de evasão fiscal de Artur Albarran mais os negócios escuros do grupo Carlyle do senhor Carlucci em Portugal, onde é que isso pára?


O mesmo grupo Carlyle onde labora o ex-ministro Martins da Cruz, apeado por causa de um pequeno crime sem importância, o da cunha para a sua filha.


E aquele médico do Hospital de Santa Maria, suspeito de ter assassinado doentes por negligência? Exerce medicina?


E os que sobram e todos os dias vão praticando os seus crimes de colarinho branco sabendo que a justiça portuguesa não é apenas cega, é surda, muda, coxa e marreca.


Passado o prazo da intriga e do sensacionalismo, todos estes casos são arquivados nas gavetas das nossas consciências e condenados ao esquecimento.


Ninguém quer saber a verdade. Ou, pelo menos, tentar saber a verdade.


Nunca saberemos a verdade sobre o caso Casa Pia, nem saberemos quem eram as redes e os "senhores importantes" que abusaram, abusam e abusarão de crianças em Portugal, sejam rapazes ou raparigas, visto que os abusos sobre meninas ficaram sempre na sombra.
Existe em Portugal uma camada subterrânea de segredos e injustiças , de protecções e lavagens , de corporações e famílias , de eminências e reputações, de dinheiros e negociações que impede a escavação da verdade.


Este é o maior fracasso da democracia portuguesa


Clara Ferreira Alves - "Expresso"


quarta-feira, 8 de abril de 2009

PROFISSÃO: JEITOSO


Toda a gente fala em especialização.

O que todos os pais querem para os seus filhos é que eles se especializem. «Aprende uma profissão, meu filho, estuda, especializa-te!»

E os nossos filhos estão todos a ir para jornalistas, médicos (menos, porque não os deixam por causa das notas), advogados, actores, engenheiros, professores, gestores de empresas e futebolistas.

Bom, eles não «vão». Eles tiram esses cursos. Nós pagamos, eles trabalham, o Estado investe - pagando as universidades públicas ou permitindo falcatruas às privadas (de onde se pode sair como engenheiro sem sequer tirar o curso)... -, e, depois os nossos filhos vão... mas vão mesmo, para o desemprego.

E se arranjam algum emprego é noutra área como... jeitosos. Já lhe dei o meu cartão? «Jeitoso numa coisa qualquer.»

Eu acho que estamos a viver a era da desprofissionalização... da «jeitosificalização».

Eu, passam-se semanas que não me cruzo com um verdadeiro profissional. Falo com empregados de hotel que há 15 dias eram pedreiros ou lavradores. Ou então eram engenheiros. Mas não estavam na hotelaria. Nas lojas, muitos não sabem do que estão a vender. Nem sequer respondem «bom-dia» quando nós temos a infeliz ideia de entrar nos mundos deles.

E, às vezes, a diferença entre ser bom profissional ou mau mede-se em milímetros de simpatia, décimos de segundo de boa educação...

É que quando se acaba com os profissionais - os que se dedicam à sua profissão, que armazenam conhecimento sobre a profissão -, deixa de haver passagem de conhecimento, de noções de qualidade e de seriedade...

E o patrão paga menos aos jeitosos, claro.

Não são profissionais!...

E os lucros aumentam.

Mas não para nós que não lucramos nada com maus profissionais, nem com jeitosos.

Aumentam só para os profissionais destas manigâncias.

Já viram, por exemplo, como nós temos advogados a tratar de tudo em Portugal? Desde ministérios da Defesa até comissões liquidatárias de qualquer coisa. Conheço um advogado que começou na advocacia (deve ter começado pelo menos...), e já passou pela presidência do Sporting Clube de Portugal, pela Presidência das Câmaras da Figueira da Foz e de Lisboa e ainda conseguiu chegar a ser Primeiro Ministro.

Mas será que os advogados sabem de tudo?

Serão assim tão jeitosos?

E agora essa moda dos gestores?

Será que um gestor de telemóveis é necessariamente bom num ministério da Saúde?

Não há particularidade em cada profissão?

Uma contabilista pode ser ministra da Economia ou da Justiça?

E, quando sai de ministra da Justiça pode ir dirigir um banco - a Caixa Geral de Depósitos, por exemplo?

Qualquer pessoa pode dirigir um banco? Então, dêem-me um! Vão ver a reforma que eu arranjo para mim...

Olhem, vou de férias!