domingo, 15 de março de 2009

JUNTA DE BOIS e O CHEFE MÁXIMO




Um professor de Filosofia que sofria de cancro na garganta foi operado e perdeu a voz.

O cancro não foi, mesmo assim, debelado. Apenas se adiou o problema.

Este homem pediu, no meio de um grande sofrimento, para ser aposentado antecipadamente. Foi por isso presente a uma junta médica que o julgou capaz para exercer as suas funções de docente.

A lógica desta junta parece-me, sobre um certo ponto de vista, acertada. Se eles, que não têm cérebro nem coração, podem estar à frente de uma junta médica, porque é que alguém sem voz não pode leccionar e continuar em funções?

É claro que estamos numa situação quase kafkiana. No entanto, o absurdo de O Processo de Kafka era limitado a um indivíduo. Mas neste caso, estamos já perante a segunda situação do género em pouco tempo. E se juntarmos a isto o caos burlesco em que se transformaram as urgências, com o INEM e os bombeiros a darem cabriolas e pinotes com os doentes, estamos perante uma tragicomédia de dimensões gigantescas. Se não fosse de saúde que estivéssemos a falar, poderia até rir com o que se passa. Mas, sendo assim, apetece-me apenas gritar aos senhores do governo:

- PAREM COM ESTA PORCARIA DE UMA VEZ, SEUS MALUCOS!!!

Apetece-me a mim e começa a apetecer a muito boa gente.

É por isso que Sócrates se vê obrigado a entrar pelas garagens, a subir por marquises e a saltar muros das traseiras para não enfrentar as pessoas.

Anda fugidio, sorumbático e vingativo.

Só se sentiu bem nos seus compromissos na âmbito da presidência do Conselho Europeu onde ninguém o chateou e tinha sempre o ar fresquinho dos ares condicionados a dar na cara.

Mas começa a ser certo que a imensa junta «médica», que é o povo, se prepara para o julgar.

E, neste caso, há cérebro, há coração e há todos os motivos para um veredicto:

JOSÉ SÓCRATES E O SEU GOVERNO SÃO CONSIDERADOS INAPTOS PARA TODO O SERVIÇO. PODEM IR PARA CASA.





Os problemas com o socorro prestado a vítimas levaram-me a concluir uma típica verdade de La Palisse, ou seja, que não estamos minimamente preparados para prestar auxílio a vítimas.

E isto leva-me a outra conclusão pior:

Que o nosso Estado começa quando nos exige que paguemos carradas obscenas de impostos e acaba assim que precisamos da sua ajuda.

Por isso pode-se dizer que no nosso país pagamos o preço máximo pelos serviços mínimos.

Não me estou a fazer de vítima, mas isto assim não é nada.

Ainda se lembram de há uns tempos um barco de pesca pediu ajuda?

O barco estava encalhado a poucos metros de uma praia. A marina de guerra portuguesa que anda completamente cheia de trabalho a limpar os porões das três barcaças que ainda funcionam foi tão lenta e ineficaz a responder à emergência que parecia o Miami Vice realizado pelo Manoel de Oliveira.

E depois ainda veio um oficial qualquer, ou seja, o responsável máximo dos serviços mínimos, dizer que agiu da melhor maneira. Ainda bem que o homem agiu da melhor maneira. Imagino se ele agisse da pior maneira. Era um autêntico holocausto na costa portuguesa.

Nem uma lapa escapava.

Uma semana depois deste caso que me ficou na memória, aconteceu outra situação idêntica.

Um português morreu porque esteve sete horas à espera de ser transportado do Alentejo para Lisboa.

Sete horas?!?!?

É uma viagem para o Brasil ou uma ida e volta a Cabo Verde.

E depois ainda veio mais um responsável máximo dos serviços mínimos dizer que não tem a obrigação de fazer mais do que aquilo que fez. O que está certo. Ninguém é obrigado a nada. Mas se não quer trabalhar vá para o raio que o parta e dê lugar a outro que se sinta mais obrigado a salvar vidas!

A verdade é que os responsáveis máximos dos serviços mínimos, que normalmente são políticos, altos funcionários, ou altas patentes, nuca sentem uma pontinha de responsabilidade pelo que vai acontecendo no país.

E porquê?

Porque num país católico como o nosso eles sabem que só há duas coisas a fazer em caso de emergência.

Primeiro:

Rezar para que o pior não aconteça.

Segundo:

Se o pior acontecer, rezar para que, como sempre, a culpa morra tão solteira como a irmã Lúcia.

Ámen!!!