terça-feira, 15 de abril de 2008

PUBLICIDADE


Eu bem tento, mas não consigo escapar à publicidade. Na televisão são aqueles intervalos tão grandes que, quando acabam, já não nos lembramos do programa ou filme que estávamos a ver e a barba já nos dá pelo umbigo.
Além disso, enquanto estivémos à espera, fomos zapando e vimos os começos ou finais de outros programas e filmes noutros canais. E depois misturamos tudo, pelo que às vezes damos por nós a perguntar:
Então, mas o que é que o Júlio Isidro está a fazer neste filme do espaço?
Na TVCabo há agora cada vez mais publicidade precisamente naqueles canais que eu gosto de ver. Eu estava convencido que na TVCabo não iria haver anúncios porque já pagamos para ter canais. Tenho mesmo a impressão de que um dos argumentos da TVCabo era precisamente o de não ter publicidade. mas enganei-me, mais uma vez, ou enganaram-me ou... já não me lembro.
Portanto sou obrigado a ver tanta publicidade que me sinto com algum à-vontade para tecer uns comentários. Sou quase um Nuno Rogério dos anúncio, por isso cá vai disto.
Há uns tempos andaram a anunciar um aparelho de GPS da seguinte maneira:
- Abrande para 80 km. Uf! íamos sendo apanhados. GPS marca tal!
Ou seja, é uma marca de GPS que é a indicada para detectar as brigadas de trânsito que estão escondidas para nos caçar quando vamos em excesso de velocidade. Não fixei o nome do produto, mas se lhe chamarem «O GPS do Chico Esperto» acertam em cheio.
Antigamente estes produtos eram, obviamente, proibidos. Mas hoje em dia a chico espertice é algo de tão forte e enraizado na nossa sociedade que já deve ser permitido outra vez.
Só não percebi bem ainda se estes aparelhos detectam os agentes - e são proibidos, porque os agentes não são estúpidos - ou é a publicidade que é só enganosa e, portanto, deveria ser proibida. Ou então é só uma piada do anunciante que, como se vê, tem um sentido de humor tão infeliz como o do ministro Mário Lino.
Outra estratégia que eu não entendo é a de uma cadeia de lojas que apresenta um tipo histérico aos gritos a dizer uns preços de uns artigos que eles vendem O tipo, no meio da berraria diz com um sorriso apatetado que vai comprar porque:
«Eu é que não sou parvo!»
Portanto, o que eles me estão a dizer é que eu, que nunca fui àquela loja, nem sei onde é, nem nunca a vi, nem sequer gosto de pessoas que gritem comigo, sou parvo.
Ora, a primeira coisa que penso quando ouço um tipo aos gritos é que ele é parvo e quando ouço um tipo que é parvo a chamar-me parvo fico sem vontade de o conhecer e se, ainda por cima, ele está a dizer para eu ir comprar não sei o quê não sei aonde, pura e simplesmente não vou.
Não entendo.
Há um outro anúncio muito significativo.
Um rapaz entra numa loja envergonhado e diz:
- Quero preservativos.
A empregada, sem lhe fazer notar que ele não disse sequer se faz favor, diz:
- Desculpe?
O rapaz põe logo uma cara de mete nojo e repete:
- Preservativos!
Com o ar de quem já disse uma vez e só está a repetir porque a empregada é surda...
O que acontece é que afinal o puto não está numa farmácia e além de malcriado é cegueta.
A ideia até é gira, embora me pareça ser retirada de uma anedota.
Mas, já agora, o puto tinha necessidade de ser mal-educado?
O que é que estes publicitários querem dizer com estas coisas?
Será que têm a ideia que se nos chamarem parvos nós vamos comprar?
Será que aquele anúncio é para vender óculos só a putos malcriados?
Ou sou eu que sou antiquado e hoje em dia já se pode chamar parvo aos clientes e ser ma-educado à vontade e em plena televisão?
Sem querer ser eu mal-educado e muito menos Chico Esperto, a verdade é que este pessoal parece que anda todo meio aparvalhado, não acham?
in, Os jeitosos Continuam à Solta de José Pedro Gomes.

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