quarta-feira, 19 de agosto de 2009

AS FÉRIAS


Ah! As férias! Finalmente estão quase aí!

Passamos o ano inteiro à espera delas, a sonha com elas, a poupar para elas! É fantástico quando chegam! Uns tempos antes tratámos do passaporte e dos vistos... E quando está tudo em ordem, é só fazer as malas. «O que é que levas? Só isso? E se está frio? E para o calor? E quando estiver calor, mas a chover?... Sabes como é...» Duas malas por pessoa! «E quando não haver nada para fazer? Quando chove - que lá chove sempre...» E levamos sempre mais dez livros do que aqueles que se consegue ler em 3 anos. Quatro malas por pessoa. «E se compramos lá alguma coisa?» «Eu não compro nada!» «Isso dizes tu sempre. No ano passado tivemos que comprar uma mala lá para trazer tudo o que tu não querias comprar, mas compraste. Ainda por cima porcarias que tu não te lembras para que é que servem...» «Mas este ano não compro nada!» «Cinco malas!» Cinco malas, que estamos sempre à procura e a contar, a ver se não falta nenhuma... Um inferno!

Já vamos para lá com excesso de bagagem...

Depois vamos para o aeroporto. 1, 2, 3, 4, 5...

Agora com as medidas de segurança do terrorismo, temos que estar 3 horas antes da partida. É bom, porque no free shop é tudo mais barato... Nesta altura, ainda não partimos mas já estamos com... 2, 4, 5 malas... e 3 sacos de plástico.

Depois o voo. Comprimidos para dormir. Mas, com a excitação, o comprimido não actua completamente e só ficamos muito bêbados, e chegamos lá com uma grande moca. A minha mulher leu-me o folheto do Dormicum 4 vezes... «Fenipro... fepinorpr... penifo...» até eu próprio tomar um comprimido porque já não a aguentava mais e adormecer...

A viagem é sempre o pior das férias. A comida é intragável, o vinho tinto vem gelado, as hospedeiras atiram-nos as coisas com uma simpatia de plástico. E vamos todos enlatados com crianças a chorar, e flatos mal disfarçados, uns 300 portugas que pagaram um balbúrdio para irem todos para um destino «exótico», «diferente». Afinal, chegamos lá e estamos os 300 no mesmo hotel. Parece a Amadora, mas com palmeiras. E todos os anos é a mesma coisa. A gente é que se esquece, de um ano para o outro. 1, 2, 3, 4, 5!

Mas as férias são um momento único para conhecer novas culturas.

Põem-nos uma pulseira... e normalmente da cultura conhecemos só a gastronomia má dos vários países. Mas não se pode ter tudo...

E prende-se imenso sobre a comida indígena. Por exemplo: fiquei a saber que a goiaba dá uma limpeza instantânea aos intestinos, como a papaia; o feijão mineiro é muito mais... potente que o nosso; os fritos tradicionais fazem uma azia mais persistente que os nossos. Em Cuba (onde há sempre uns tipos a cantar «de tu querida presencia!...»), em Cuba, por exemplo, recomendo os que são feitos com óleo de carro antes da revisão, «muy típicos».

As bebidas alcoólicas fazem muito mais efeito lá. Há quem diga que é por causa do calor, mas para mim, é só porque é de borla. E passamos o dia a beber à beira da piscina, com muito gelo - a torrar ao sol, como se o sol não estivesse lá no dia a seguir - , e só damos por isso quando nos levantamos e caímos na piscina.

Quando, finalmente, os remédios que levámos para a diarreia inevitável já estão a fazer efeito - mais ou menos dois dias antes do regresso a casa - , conseguimos ir à casa de banho normalmente. É aí que reparamos que até aí, na casa de banho, as diferenças são enormes.

A sanita brasileira, por exemplo, tem um autoclismo em que é preciso ficar ali a carregar, se não a água pára de correr. Portanto, depois de fazermos a obra... temos que ficar ali a contemplá-la... a ver o que comemos. Esta sanita brasileira deve ter sido inventada por um maníaco - ou uma maníaca, que as mulheres têm uma relação muito mais... duradoura com aquilo que comem -, uma maníaca das dietas. «Cê está vendo, diz a sanita, cê comeu casca de siri paca. Ó alí o pedaço de acarajá que não devia ter pegado, sua gorda!»

Já a sanita americana é diferente, muito mais agressiva. A sanita americana tem uma base em cima cheia de água. Portanto, cada vez que fazemos... o que temos a fazer, a água salpica-nos. Plof!

Talvez esta agressividade da sanita americana se explique pelo ciúme. É que, se virmos bem, os americanos não inventaram nada para a culinária. Só inventaram o gelo para pôr nas bebidas: gin - inglês - com gelo, whisky - escocês - com gelo, martini - italiano - on the rocks... Ok, já estou a ver a malta mais nova: «Coca-Cola, americana, com gelo!» Mas, meus jovens amigos, a coca-cola não é uma bebida, é um desentupidor de canos...

De que altura é que os americanos têm de fazer na sanita para não se salpicarem?... Se calhar é por isso que temos a tendência da dizer que os americanos estão sempre a «cagar de alto»...

Esta coisa das férias é formidável para nos pôr em contacto com outras realidades. Agora há a moda dos eco-resorts, que são uns hotéis com espaço que nunca mais acaba, porque os terrenos foram sacados por uma tuta-e-meia a uns índios que por ali havia. Mas estamos mais em contacto com a natureza. Estamos.

Do ponto de vista da natureza... do negócio, contactamos com o dono alemão do resort brasileiro, o dono francês do resort dominicano, o dono espanhol do resort cubano. E não há dúvidas que contactamos com os indígenas - só porque são os empregados.

E com os animais...

Em África, com os macacos. Começam por tomar o pequeno-almoço connosco, logo no primeiro dia. «Olha um saguim!» Não é nada. É um babuíno, mas não interessa. «Olha para o saguim, parece mesmo que está a pedir um bocado de manga! Olha a cara dele, parece mesmo o filho do Sr. Mário, aquele teu ex-namorado, a pedir... Toma! Olha, olha ele a comer, todo satisfeito, o bocado de pão com manteiga. E quer mais! O que é aquilo? Grande lagartixa! É uma iguana?» «Não é nada, parece uma osga...» «Tá bem, em maior.» A osga não se aproxima, só diz «Bah! Bah(levantando a cabeça a cada vez) «Pão com manteiga comam vocês. Eu sou uma iguana, não sou estúpida.» A iguana está ali... não é que tenha um contrato com o eco-resort para aparecer à hora do pequeno-almoço. Não. Está ali para comer os mosquitos que vêm ter connosco - o tal encontro com a natureza... «Mmmmm! Mmmm!» E a iguana «schlep! Este mosquito hoje está gostoso! Eu sou um iguana, não sou estúpida»...

Isto é só no primeiro dia. Porque no segundo dia a iguana não aparece... porque não é estúpida e já sabe que o saguim - que afinal é um babuíno, aprendemos nós entretanto num livro inglês - vai começar a exigir mais que o pão com manteiga. «Não queres o pão? O que é que tu queres, pá? Queres o ananás? Era o que faltava. Que isto saiu-me do pêlo. Eh pá! Roubaste-me?! Tá quieto! O saguim está-me a morder! Tá quieto! Socorro!» E a iguana «Eu não disse? Parece que sou bruxa. Não gosto de confusões...»

Mas há os turistas mais afoitos, que alinham nos programas propostos nos eco-resorts: caminhada na selva (20 km!...), excursões que acabam sempre numas tendas onde somos assaltados por comerciantes famintos (em Cuba são acompanhados por cantores mariachi famintos ou lá o que são, sempre a cantar «comandante Che Guevara»). E lá acabamos por comprar umas bugigangas que não sabemos depois para que servem e damos como «recuerdos» aos amigos.

Mas há turistas piores. São os que alinham em todas as actividades que os resorts oferecem: hidroginástica (aquelas pessoas que fazem uma barulheira infernal dentro da piscina quando nós estamos a refazer-nos do ataque do saguim - está bem, babuíno! - e queremos dormir um bocado ao sol); skwash; tiro ao alvo; danças nativas (para as quais não temos jeito nenhum); pingue-pongue; ténis (à torreira do meio-dia); canoagem e até passadeira (que são uns fulanos que se põem a correr dentro duma sala, contra uma parede, quando há centenas de hectares lá fora!...). Bom, esses turistas são os que precisam mesmo de férias.

Depois voltamos para Portugal (1, 2, 3, 4, 5, 6, 7...) e ficamos o resto do mês fechados em casa, porque já não temos mais dinheiro para sair. Aquele ar risonho, meio aparvalhado de que está de férias, acaba-se imediatamente. Mas as férias são óptimas para descansarmos. Dão para ler uns romances daqueles enormes, que não lemos durante o ano.

Já agora, boas férias para todos.

domingo, 16 de agosto de 2009

A ESTAÇÃO PARVA


Como vivem os 20 homens mais ricos de Portugal.

Conheça o lado negro de Diana mais de 10 anos depois da sua morte.

Como gastam o dinheiro os 20 herdeiros dos mais ricos de Portugal.

Os 10 hotéis de sonho,

As operações de estética, onde e como.

A moda do sexo na escola.

Isto são títulos de capas de revistas de informação geral dos últimos meses. Não estou a falar da Caras, da Vip, da Flash, da Nova Gente ou da TV Guia, que se especializaram nestas questões.

Não.

Estou a falar de revistas como a Focus, a Visão ou a Sábado. Revistas supostamente de informação geral, política e séria.

Claro que depois lá dentro têm os artigos de informação geral, séria e interessante. Mas a capa, senhores, faz-nos pensar que ou alguém meteu droga na máquina de café das redacções ou a silly season provoca graves danos na capacidade de escolha dos editores.

Gostava de perceber porque é que as capas das revistas da chamada imprensa de referência deram em só chamar a atenção para as coisas menos importantes de que tratam?

Aqui há uns anos percebi que os jornalistas definiam os meses de Verão como «silly season», que no fundo é «estação parva», mas dito em inglês ainda mantém uma certa dignidade, não é mesmo só parva. Eu até já me tinha habituado à ideia de só ler disparates nos meses de Verão, e até desculpava.

O problema é que agora estão a estender a estação parva ao ano todo. Este ano foi parvo desde Março. E isso é muita parvoíce.

É verdade que o tempo anda aparvalhado e já ninguém se entende com este clima, mas acho que andam a exagerar. Por favos, liguem o ar condicionado numa temperatura que não promova a parvoíce. Deve haver estudos que explicam qual é essa temperatura. Inclusive numa dessas edições de Verão que têm estudos sobre tudo e mais alguma coisa.

É que, como eu disse, lá pelo meio ainda há muita coisa boa.