quarta-feira, 8 de abril de 2009

PROFISSÃO: JEITOSO


Toda a gente fala em especialização.

O que todos os pais querem para os seus filhos é que eles se especializem. «Aprende uma profissão, meu filho, estuda, especializa-te!»

E os nossos filhos estão todos a ir para jornalistas, médicos (menos, porque não os deixam por causa das notas), advogados, actores, engenheiros, professores, gestores de empresas e futebolistas.

Bom, eles não «vão». Eles tiram esses cursos. Nós pagamos, eles trabalham, o Estado investe - pagando as universidades públicas ou permitindo falcatruas às privadas (de onde se pode sair como engenheiro sem sequer tirar o curso)... -, e, depois os nossos filhos vão... mas vão mesmo, para o desemprego.

E se arranjam algum emprego é noutra área como... jeitosos. Já lhe dei o meu cartão? «Jeitoso numa coisa qualquer.»

Eu acho que estamos a viver a era da desprofissionalização... da «jeitosificalização».

Eu, passam-se semanas que não me cruzo com um verdadeiro profissional. Falo com empregados de hotel que há 15 dias eram pedreiros ou lavradores. Ou então eram engenheiros. Mas não estavam na hotelaria. Nas lojas, muitos não sabem do que estão a vender. Nem sequer respondem «bom-dia» quando nós temos a infeliz ideia de entrar nos mundos deles.

E, às vezes, a diferença entre ser bom profissional ou mau mede-se em milímetros de simpatia, décimos de segundo de boa educação...

É que quando se acaba com os profissionais - os que se dedicam à sua profissão, que armazenam conhecimento sobre a profissão -, deixa de haver passagem de conhecimento, de noções de qualidade e de seriedade...

E o patrão paga menos aos jeitosos, claro.

Não são profissionais!...

E os lucros aumentam.

Mas não para nós que não lucramos nada com maus profissionais, nem com jeitosos.

Aumentam só para os profissionais destas manigâncias.

Já viram, por exemplo, como nós temos advogados a tratar de tudo em Portugal? Desde ministérios da Defesa até comissões liquidatárias de qualquer coisa. Conheço um advogado que começou na advocacia (deve ter começado pelo menos...), e já passou pela presidência do Sporting Clube de Portugal, pela Presidência das Câmaras da Figueira da Foz e de Lisboa e ainda conseguiu chegar a ser Primeiro Ministro.

Mas será que os advogados sabem de tudo?

Serão assim tão jeitosos?

E agora essa moda dos gestores?

Será que um gestor de telemóveis é necessariamente bom num ministério da Saúde?

Não há particularidade em cada profissão?

Uma contabilista pode ser ministra da Economia ou da Justiça?

E, quando sai de ministra da Justiça pode ir dirigir um banco - a Caixa Geral de Depósitos, por exemplo?

Qualquer pessoa pode dirigir um banco? Então, dêem-me um! Vão ver a reforma que eu arranjo para mim...

Olhem, vou de férias!

1 comentário:

Anónimo disse...

Ok, já estou há muito para comentar...mas por "preguiça" não o faço :S mas após ameaça de encerramento do blog por falta de comentários...cá estou eu :D
Devo dizer que me fazes esboçar um sorriso, ou mesmo soltar uma gargalhada, quando me deparo com textos destes, consegues tornar assuntos que são sérios em autenticos filmes de comédia (entende isto como um elogio, ok?).
Mas também devo dizer que tenho saudades dos poemas, esses que também me fazer sentir emoções,...outras, mas emoções...
Entendo, e sei, que as coisas não andam na sua melhor forma, mas não te deixes ir abaixo...e arranja algo em que te possas inspirar ;)
Beijufas